Houve um tempo em que trabalhei em um supermercado próximo como embalador. Você sabe, com 18 anos a gente quer mais é ganhar nosso próprio dinheiro. O salário não era lá muita coisa, mas eu já conseguia comprar meus livros e dar presentes decentes.
Como eu era totalmente inexperiente no quesito ‘trabalhar em supermercado’ (na verdade nunca fiz porra nenhuma), uma moça me ensinaria tudo antes de eu começar. Ela devia ter seus 28 anos e tinha uma expressão severa. Dos seus lábios finos nunca saía um bom-dia.
Ela se manteve fixa atrás do balcão e disparou a falar. Falou da carga horária. Falou de como proceder em assaltos. E ressaltou várias vezes a importância de se separar os produtos na hora de embalar para os clientes. “É claro que você não colocaria o papel higiênico e biscoitos juntos num mesmo saco”, dizia ela enquanto me entregava o uniforme de trabalho.
Pareceu fácil no começo, mas logo em enrolei todo. O enxaguante bucal pode ficar junto com o detergente? Ou ficava junto com o detergente, ou então com o óleo de cozinha e a maionese. E que tal pegar um saco só pra ele? Será que pode?
“Não há problema nenhum em usar outro saco para o enxaguante. Na dúvida, é sempre melhor deixar cada coisa em seu lugar” – Disse ela pegando outro saco de papel. – “E isso não vale só aqui no supermercado” – acrescentou.
Foi nessa mesma época que eu entrei em depressão. A faculdade me pressionava muito, os amigos do colegial sumiram e meus pais se separaram. Além disso, me apaixonei... E te digo, foi a pior dor que senti até então. Então larguei o emprego, tranquei a faculdade e só sabia dormir. E dormir. E dormir.
Um dia acordei e estava chovendo. Chamei pelo meu irmão. Ninguém respondeu. Só a chuva. Procurei por alguma coisa pra comer e não achei nada pronto, então fui ao supermercado. Aquele mesmo da rua de baixo, onde trabalhei meses atrás. Estaquei na entrada quando vi a mesma moça no balcão ensinando o ofício a um outro cara um pouco mais novo que eu. Me lembrei.
Foi nesse dia que, debaixo de muita chuva, abri meu coração e peguei três sacos: um para minha família e meus amigos, outro para faculdade e um pra você.
Como eu era totalmente inexperiente no quesito ‘trabalhar em supermercado’ (na verdade nunca fiz porra nenhuma), uma moça me ensinaria tudo antes de eu começar. Ela devia ter seus 28 anos e tinha uma expressão severa. Dos seus lábios finos nunca saía um bom-dia.
Ela se manteve fixa atrás do balcão e disparou a falar. Falou da carga horária. Falou de como proceder em assaltos. E ressaltou várias vezes a importância de se separar os produtos na hora de embalar para os clientes. “É claro que você não colocaria o papel higiênico e biscoitos juntos num mesmo saco”, dizia ela enquanto me entregava o uniforme de trabalho.
Pareceu fácil no começo, mas logo em enrolei todo. O enxaguante bucal pode ficar junto com o detergente? Ou ficava junto com o detergente, ou então com o óleo de cozinha e a maionese. E que tal pegar um saco só pra ele? Será que pode?
“Não há problema nenhum em usar outro saco para o enxaguante. Na dúvida, é sempre melhor deixar cada coisa em seu lugar” – Disse ela pegando outro saco de papel. – “E isso não vale só aqui no supermercado” – acrescentou.
Foi nessa mesma época que eu entrei em depressão. A faculdade me pressionava muito, os amigos do colegial sumiram e meus pais se separaram. Além disso, me apaixonei... E te digo, foi a pior dor que senti até então. Então larguei o emprego, tranquei a faculdade e só sabia dormir. E dormir. E dormir.
Um dia acordei e estava chovendo. Chamei pelo meu irmão. Ninguém respondeu. Só a chuva. Procurei por alguma coisa pra comer e não achei nada pronto, então fui ao supermercado. Aquele mesmo da rua de baixo, onde trabalhei meses atrás. Estaquei na entrada quando vi a mesma moça no balcão ensinando o ofício a um outro cara um pouco mais novo que eu. Me lembrei.
Foi nesse dia que, debaixo de muita chuva, abri meu coração e peguei três sacos: um para minha família e meus amigos, outro para faculdade e um pra você.