Já
há certo tempo ando encantado, seduzido e arrebatado por um mundo que me
permitiu morrer-me e construir-me novas em composições. Um mundo que me
convalesce e pede em troca apenas os miasmas que eu doloridamente carrego,
amarras já esverdeadas pelo limo do tempo. Os dias agora são de tamanha
plenitude que meus desatinos me sufocam de tanta beleza. Ligo minhas antenas numa
tentativa de captar o que me cerca em sinais de telégrafo e transcrevê-los em
línguas que as pessoas possam ler e entender o que eu testemunhei. Mas a graça do
que se vive é como fogo-fátuo, num instante já não se é mais e não se sabe se
será de novo. E eu solto suspiros de horror porque tenho medo de esquecer o que
vivo e sabe-se que o relógio é o inimigo da memória. E ele tiquetaqueteia.
Pela
primeira vez meu mundo é exatamente o que meu coração pede. E relatá-lo é
tarefa difícil porque queria fazer uma narrativa isenta de mim. Mas como posso
buscar a crueza do que se vive se viver é coisa inextricavelmente grudada ao
que se é? E o que eu sou parece me assustar cada dia mais. Ainda assim,
hesitante, eu me deixo acontecer. Não por inconsequência, mas por portento:
faço da minha presença o luxo da minha ausência. Tenho coragem? Pelo menos por
enquanto estou tendo. Tateio na escuridão de mim e sigo a coragem, palavra que tem luz
própria. No seu tremeluzir febril, eu mal existo e, se existo, é com delicada
cautela.
É
tempo de festejo e sinos repicando com cadência, ora bem próximo, ora lá longe mas
nunca igual. Todo dia é um clímax pulsante e túrgido. Mas há pressa, pois logo
será outono no calendário e na alma e eu, nu como as florestas, me recolho. Tenho
que me desfazer da minha realidade bonita e sonâmbula como os freixos se despem
das suas folhas e eis que sou dado uma realidade inventada que faz tão pouco sentido
quanto a veia que pulsa, mas eu a manejo com os dedos como oleiro diligente.
O
barro me escapa aos dedos e já não sei captar cada coisa senão vivendo cada
coisa: é o mito da minha criação. Tenho o cuidado de não moldar peça oca porque
o vazio me assusta. O vazio é a trombeta que anuncia a dor de viver. E eu há
muito já não a quero mais.
É tanta informação que me vem em mente ao lê-lo, que me confundo para comentar.
ResponderExcluirEntão que saiba que eu sempre adoro vir aqui. =)
Olá!
ResponderExcluirTe indiquei num meme lá no meu blog.
Evidentemente que não há obrigação para participar disto, mas quando fui indicada me bateu uma nostalgia (uma coisa meio anos 2000), e uma vontade de mostrar que ainda existe gente que gasta tempo escrevendo, no lugar de copiar e colar "dicas de maquiagem". Então entrei na dança, e parte disso é vir aqui avisar que te linkei (mesmo sabendo que o blog não tem atualizações).
Hasta la vista!