segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O novo mal do século

Nesse post vou dar de certa forma uma 'continuação' ao assunto anterior: a idealização de modelos de vida que são totalmente inadequados à vida real. Pois então. Quando as pessoas contagiadas pelo romantismo começam a falar de amor, geralmente fico calado. Mas certo dia fui indagado sobre o amor e comecei a pensar. E pensando, fui escrevendo.

Quando se fala em uma grande propaganda, muitos podem até achar que se trata de algum novo lançamento da moda, de uma nova tecnologia ou da Coca-Cola. Mas não. Mesmo que a maioria das pessoas não perceba, a maior propaganda existente é a do amor romântico. Ele existe há muito tempo e todos o conhecem muito bem. O que vemos na televisão? Novela romântica. O que ouvimos no rádio? Música romântica. Nos dias de hoje existe uma campanha, difundida por todos os meios de comunicação, que procura nos convencer de que só é possível ser feliz vivendo um romance, que nos traz a ilusão do amor verdadeiro. E tal campanha é tão grande quanto o desejo de viver esse amor. Por isso, são poucos os que suportam ouvir que, apesar de toda a felicidade prometida, ele não passa de uma mentira. Sem contar que traz mais tristeza do que alegria, além de muito sofrimento.

Histórias da literatura, como Romeu e Julieta ilustram bem como o amor romântico é uma impossibilidade. Quanto mais obstáculos impedem que o casal fique junto, mais apaixonados eles se tornam. Em um determinado momento da história, interesses econômicos introduziram esse tipo de amor no casamento, transformando todo seu percurso. Até a Revolução Industrial, no final do século XVIII, a maioria das pessoas morava no campo, junto com todos os membros da família, o que fazia com que sentissem afetivamente amparadas. Os casamentos aconteciam por motivos econômicos e políticos, por isso é que eles duravam a vida toda. Já que não havia romance nem expectativa de satisfação sexual, não havia decepções, e ninguém pensava em se separar. Com o surgimento das indústrias, as pessoas que moravam no campo foram atraídas para os grandes centros industriais, as cidades que surgiam. Assim nasceu a família nuclear - mãe, pai, filhos -, agora sozinhos na cidade. Para que o casal suportasse viver assim, longe daqueles com quem tinha laços afetivos, inaugurou-se o amor romântico no casamento. Era como se todos dissessem: “Não consigo ser feliz sozinho, preciso de alguém. Compulsivamente”. E essa procura nos faz desacreditar no amor, pois só há desilusões.

Desde bem pequenos já nos fazem engolir o amor romântico, como se fosse um pacote econômico do governo. E isso não deve ser discutido, e sim cumprido. Uma criança já toma sua sopinha com a babá, assistindo à novela das sete. Na hora de dormir, a mãe conta a história de Branca de Neve ou Cinderela, e assim por diante. A mídia e os contos de fadas idealizam esse modelo de vida onde tudo dá certo no final, todos se casam e o vilão é sempre pego. Todas essas expectativas e idéias do amor romântico são passadas como uma única forma de amor, e aprendemos a sonhar e a buscar um dia viver tal encantamento. Esses padrões estão inteiramente fora do alcance da maioria das pessoas e isso conduz a vivências de fracasso. E se não conseguimos obter tudo o que mostram revistas, novelas, publicidade e amigos, é natural pensarmos que o problema somos nós. Um bom exemplo é o do culto ao corpo: “malhação” exagerada, cirurgias desnecessárias, regimes de emagrecimento absurdos. Não há limites para nos tornarmos bonitos e atraentes, e o sofrimento envolvido nestas atividades pode ser imenso, levando por vezes a mutilações irreversíveis, e até mesmo à morte, como comprovam os casos fatais de anorexia que tanto deram o que falar há pouco tempo.

O amor romântico não corresponde à realidade e traz decepção e frustração. Vivendo esse amor, idealizamos a pessoa amada e projetamos nela tudo que gostaríamos de ser ou como gostaríamos que ela fosse. Não nos relacionamos com a pessoa real, mas com a inventada. É este o preço salgado que pagamos por uma liberdade sem precedentes na vida pessoal. Assim, se iniciou século XXI sob a marca de um conflito entre as facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento da civilização e o que essa mesma evolução acarreta no plano da experiência subjetiva, aí incluídas as relações amorosas. É preciso perceber que não há um padrão de vida. Não existe um padrão de felicidade onde a regra número um é casar e ter filhos. Só é extremamente necessário que cada um tenha coragem. Coragem não para se entregar a instintos e impulsos, mas de enfrentar a si mesmo e as próprias ilusões infantis.


3 comentários:

  1. Cara realmente a sociedade se sujeita a tais coisas... mas se sujeito por que quer realmente. Tu falou uma realidade. Não existe "amor romântico" ou "Paixão"... é tudo ilusão. O Amor é diferente do que nós imaginamos que seja. Amor não é a propaganda da novela das oito.Amor de verdade, é um realidade totalmente diferente daquela que adotamos nos dias de hoje.
    Bom tema Ítalo, bom tema.

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  2. Hey, me surpreendi de como você desenvolveu este texto. Está muito bom mesmo. Eu concordo bastante com você nisso. Colocando um fato, as mulheres sempre foram as excluídas. Acho complexo a ideia de sempre que é colocada. Nossa, você tinha que ler um texto meu sobre Don Juan. Depois me lembra de comentar com você, acho que vai gostar. :*
    Continue assim, encontramos poucas coisas boas hoje em dia na internet :D

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  3. Ítalo, adorei o seu texto. Eu concordo com vc. Realmente, a sociedade encara tudo de forma binária, como diz nosso querido prof Luiz. Ou uma pessoa encontra a sua cara-metade e se casa ou está condenada a viver infeliz eternamente. Gostei mto da forma como vc retratou o amor romântico e sua influência nos dias atuais. Seu texto ficou demais. Parabéns!!

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